O uso de dispositivos digitais é uma realidade (quase) inevitável para crianças e adolescentes da geração atual, mas os efeitos do tempo excessivo de tela na saúde e no desenvolvimento infantil levantam preocupações relevantes cada vez melhor descritas por pesquisas científicas. Os impactos acontecem no desenvolvimento cognitivo, emocional e físico das crianças, influenciando desde o sono até as habilidades de socialização e aprendizado.
Com esses dados em mente, as sociedades médicas de pediatria como a Academia Americana de Pediatria (AAP), Academia Americana de Psiquiatria Infantil e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) fornecem orientações para ajudar pais e responsáveis a estabelecerem limites saudáveis. O objetivo deste artigo é orientar você a fazer o melhor uso seguro de acordo com a faixa etária do seu pequeno.
Orientações por Faixa Etária
0 a 2 anos
O ideal é que nas crianças menores de 2 anos, o uso de telas seja evitado, exceto para videochamadas com familiares. Esta fase é crucial para o desenvolvimento sensorial e motor, e as interações com o ambiente físico e com os pais são fundamentais para a criação de laços e desenvolvimento social. A exposição a telas pode atrasar o desenvolvimento da fala e interferir no sono, prejudicando o crescimento e o bem-estar geral.
2 a 5 anos:
Para crianças de 2 a 5 anos, o uso de telas deve ser limitado a no máximo uma hora por dia, sempre com supervisão de um adulto. É essencial que o conteúdo seja de qualidade, educacional e apropriado para a idade, ajudando no desenvolvimento da linguagem, do raciocínio lógico e das habilidades socioemocionais. Prefira conteúdos educativos e interaja com a criança durante a exibição para tornar a experiência mais ativa e significativa.
Dicas:
- Canais e aplicativos de leitura interativa ou “contação de histórias”. Ex: PlayKids (App).
- Canais de música: aulas de música ou proposta de aprendizado de vocabulário por meio da música; Ex: “Mundo Bita” (YouTube)
- Canais educacionais: foco no aprendizado de vocabulário, habilidades e emoções. Ex: TV cultura (Tv aberta), “Canal da Vila Sésamo” (YouTube), Sago Mini (App), Mindfulness Kids (App).
6 a 12 anos
Nessa faixa etária, as crianças podem começar a usar a tecnologia para aprendizado e lazer de forma mais independente. Contudo, o tempo de tela ainda deve ser limitado a no máximo 1-2 horas por dia, com atividades diversificadas que incluam brincadeiras ao ar livre, esportes e interações sociais. Além dos exemplos anteriores, nesta faixa etária, o estímulo ao pensamento lógico e resolução de problemas é um uso interessante da tecnologia.
Dicas:
- Canais, aplicativos ou jogos que estimulam o pensamento lógico e a resolução de problemas. Ex: TV cultura, “Peixonauta” – Série; “Turma da Mônica” (quadrinhos e apps); Turma do Joca (série);
Acima de 12 anos
Para adolescentes, o foco deve ser em educar sobre o uso responsável da tecnologia, o impacto das redes sociais na autoestima, ansiedade e depressão, e o equilíbrio entre o uso de telas e atividades offline. Nessa fase, é essencial que os jovens aprendam a fazer escolhas conscientes, identificando limites saudáveis para si mesmos.
Dicas:
- Use o controle parental para proteger seu filho de pornografia e outros conteúdos impróprios/sensíveis para a idade.
- Dialogue sobre o uso saudável das redes sociais e os impactos que podem ter na saúde mental. Adie ao máximo o uso dessas redes.
- Incentive o equilíbrio entre o uso de tecnologia e atividades offline, como esportes e hobbies.
- Defina horários e limites, especialmente no período da noite, para garantir um sono adequado.
Regras gerais:
- Evite o uso de dispositivos durante as refeições e próximo à hora de dormir.
- Pesquise sobre os controles parentais e os utilize para a proteção do seu filho.
- Adie o uso do celular. Esse é um aparelho que tende a ser mais difícil de ter um uso controlado, especialmente se entregue na mão da criança sem supervisão.
Por fim, gostaria de deixar a mensagem que a tecnologia pode ser uma aliada na educação e no entretenimento das crianças, mas é essencial que seu uso seja feito de forma equilibrada e responsável. Seguindo as recomendações das sociedades de pediatria, os pais podem ajudar seus filhos a desenvolverem uma relação saudável com a tecnologia, promovendo o desenvolvimento emocional e físico equilibrado.
Referências
- Screen Time Guidelines
- Policies on Children and Media
- Screen Time for Teenagers
- https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24604c-MO__MenosTelas__MaisSaude-Atualizacao.pdf
- A geração ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais. Jonathan Haidt.