Essa é sem dúvida uma das queixas mais comuns no consultório de qualquer pediatra, sendo um grande desafio tanto para a família quanto para o profissional de saúde lidar com essa demanda. Muitas vezes a preocupação e ansiedade da família (por frustração de não conseguir alimentar a criança) é maior do que o problema alimentar em si, gerando um ambiente estressante para todos durante as refeições em casa.
As dificuldades alimentares geralmente surgem quando seu filho encontra-se em alguma transição de alimentação e/ou quebra da rotina (introdução da alimentação sólida/complementar, aprendendo a comer sozinho, quando fica doente etc.) Por esse motivo, é importante que seu pediatra esteja te guiando durante esses processos para que aí não surjam estratégias de alimentação inadequadas que só pioram o que já estava ruim.
A abordagem dessa queixa requer uma experiência do profissional de saúde em saber retirar as informações corretas e entender o contexto e dinâmica não só da criança e a alimentação, mas de toda a família. Ao ouvir a frase: “Meu filho não come nada!” Precisamos ir a fundo e entender se ele realmente não come nada ou ele seleciona o que quer comer? Ele não come porque não tem apetite ou porque está com dificuldade para engolir algo? Percebe como existem vários espectros da mesma queixa que merecem uma avaliação detalhada.
Existem três principais comportamentos disfuncionais de alimentação que merecem avaliação:
- A criança que come pouco;
- A criança que seleciona os alimentos que consome ficando com uma alimentação pouco variada;
- A criança que tem medo de comer;
Cada um desses três comportamentos disfuncionais tem uma abordagem individualizada a ser feita onde serão selecionadas estratégias específicas para ensinar a criança e a família a lidar com a situação. O problema pode ser desde uma simples mudança de comportamento alimentar temporária da criança até casos graves de seletividade alimentar, como vemos com mais frequência nos autistas, por exemplo.
Aqui vai uma listinha de sinais de alarme para uma provável doença associada a dificuldade alimentar do seu filho, na presença de qualquer um deles procure avaliação médica:
- Engasgo;
- Aspiração;
- Dor ao se alimentar;
- Vômito e/ou diarreia;
- Seu filho está abaixo do peso ou estatura para idade;
- Seu filho tem alguma doença crônica (como cardiopatia congênita ou doença pulmonar);
Mas se o seu filho já foi avaliado por um médico e foi excluído causa orgânica (doença), trabalhe essas 10 regras de ouro da alimentação infantil:
- Evite distrações durante as refeições (televisão, telefones celulares, etc);
- Mantenha uma atitude neutra agradável durante toda a refeição;
- Trabalhe o reforço positivo! Ofereça atenção à criança em resposta ao comportamento alimentar positivo, mas retire a atenção virando-se quando o comportamento é inaceitável;
- Limite a duração da refeição (20-30 min);
- 4-6 refeições / lanches por dia com apenas água nos intervalos;
- Sirva alimentos adequados à idade;
- Introduzir sistematicamente novos alimentos (até 8-15 vezes);
- Incentive a alimentação independente da criança;
- Tolere a bagunça apropriada para a idade;
- Seja exemplo! Os pais devem modelo de alimentação saudável, aderir ao cronograma de alimentação e definir limites para comportamento na hora das refeições, incluindo disciplina apropriada;
Se você se interessar para que eu explore mais o tema dando dicas de como lidar em cada uma das situações acima comenta aqui embaixo sua dúvida.
No mais, espero ter ajudado você.
Abraço,
Jéssica Figueiredo Dantas.
Pediatria, Gastroenterologia e Hepatologia Infantil.
CRM 185972
Fonte: Benny Kerzner, BSc. A Practical Approach to Classifying and Managing Feeding Difficulties.
Saiba mais:
https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/alimentacao-na-infancia/
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/publicacoes/14617a-pdmanualnutrologia-alimentacao.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf