Sim. Afinal, o arroto ou eructação é definido como um escape audível de ar do esôfago ou do estômago para a faringe, ou seja, é uma espécie de refluxo, contudo, ao invés de retornar um conteúdo líquido, o conteúdo é gasoso. E, sim, nós temos alguns vários episódios de refluxo de líquido e/ou ar no nosso dia-a-dia (em média 25 a 30 vezes por dia) sem isso estar ligado, necessariamente, a um processo de doença. O arroto pode ser voluntário ou involuntário. Arrotos involuntários normalmente seguem uma refeição sendo causados pela liberação do ar deglutido após a distensão do estômago.
O que causa o arroto?
A deglutição excessiva de ar, conhecida como aerofagia, é a principal fonte dos gases estomacais. E, acredite, nós engolimos ar várias vezes ao dia, simplesmente por estarmos deglutindo um alimento, por exemplo. Arrotos podem ser facilitados por alimentos que relaxam o esfíncter esofágico inferior, como chocolate, gorduras e balas (aqueles mesmos que provocam piora do refluxo gastroesofágico) ou por uso ativo, ou passivo de cigarro. A ansiedade também aumenta a deglutição de ar!
Outras condições que levam ao aumento da produção de gases — que mais cedo ou mais tarde, sairão por cima ou por baixo — são os nutrientes mal absorvidos no intestino (intolerância à lactose ou frutose, doença celíaca, etc.), diminuição da absorção de gás devido à obstrução ou eliminação disfuncional do gás (gastroparesia, pseudoobstrução intestinal, abdome agudo obstrutivo, etc.) ou expansão do gás intraluminal devido a mudanças na pressão atmosférica.
Quando o arroto pode ser reflexo de um problema de saúde?
O arroto só é considerado um distúrbio quando é excessivo e se torna incômodo ou quando existem outros sintomas associados como suspeita de Doença do Refluxo Gastroesofágico, dispepsia funcional, disfagia, queimação no peito, regurgitações ou vômitos frequentes, dor abdominal e perda de peso. É importante que nesses casos o médico indique a investigação adicional com exames como endoscopia digestiva alta e impedanciopHmetria esofágica, e claro, examine toda a história, fatores de risco envolvidos, assim como fatores psicológicos e comportamentais que costumam desempenhar um papel importante nesses distúrbios.
Critérios de diagnóstico para aerofagia:
Os critérios que devem ser preenchidos para aerofagia foram delineados pelo Roma IV, e são os seguintes:
1. Deglutição excessiva de ar;
2. Distensão abdominal devido ao ar intraluminal que aumenta durante o dia;
3. Arrotos repetitivos e/ou aumento de flatos;
4. Após avaliação apropriada, os sintomas não podem ser totalmente explicado por outra doença;
Os critérios devem ser cumpridos pelo menos 2 meses antes diagnóstico.
Possíveis consequências da aerofagia:
- Perda de apetite;
- Saciedade precoce (resultando em possível dificuldade alimentar);
- Dor e distensão abdominal;
- Gases excessivos e/ou arrotos excessivos;
- Sintomas extraintestinais (dor de cabeça, dificuldade no sono e tontura) ;
Tratamento da aerofagia
O tratamento da aerofagia deve ser multidisciplinar, ou seja, uma equipe composta por gastropediatra, psicologo e terapeuta ocupacional irão ajudar o paciente e família a investigar e lidar com o distúrbio.
- Terapia comportamental e psicoterapia;
- Exercícios respiratórios para controle da ansiedade (caso haja);
- Intervenções posturais e dietéticas visando diminuir os sintomas.
🧐 Caso você tenha observado a presença desses sintomas no seu filho, agende a avaliação médica dele quanto antes para que isso não atrapalhe a qualidade de vida dele.
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Abraço,
Dra. Jéssica Figueiredo Dantas
Pediatra, Gastropediatra e Hepatologista Infantil.
CRM 185972
Referências: